2.5.05

Do inferno

Ele nos libertou do poder da escuridão e nos trouxe em segurança para o Reino do seu Filho amado.
Colossenses 1. 13

Noite passada assisti Monster, filme que premiou Charlize Theron como melhor atriz no Oscar do ano passado. Devo confessar que chorei boa parte do filme. A história real daquela mulher foi comovente demais para mim. E devo, desde já, pedi perdão porque vou falar um pouco sobre ela.
A história de Lee é a história do inferno na vida. Um lar completamente desajustado. Aos oito anos começou a ser sistematicamente estuprada por um tio. Seus sonhos de se tornar estrela de cinema, de se tornar uma mulher linda, foram cedendo lugar à realidade de seu inferno, de sua destruição. Aos doze anos, seu pai se matou e ela foi para rua.
A esperança de Lee em sua adolescência era que alguém viesse realizar o seu sonho. Ela aguardava que qualquer dos homens com quem transava pudesse enxergar aquilo ela poderia vir a ser ou pudessem vê-la linda como ela desejava. A única coisa que eles lhe davam era dinheiro. E desde os treze anos ela se prostituía.
Ela buscava sair do inferno que era sua vida. Um inferno destruidor de sonhos e expectativas. Destruidor. Uma das coisas mais impressionantes deste filme é a maquiagem e o trabalho para tornar Charlize Theron, uma das mulheres mais lindas do cinema, em uma personagem sem beleza, destruída pelo mundo em que viveu.
O mal cerca a sua vida, conduzindo-a cada vez mais para o fundo. Uma vida sem esperança. Aos poucos a gente vai descobrindo que vez por outra Lee teve namorados que na verdade eram seus cafetões. O último deles, a espancou quase até a morte. E ela descobriu que não merecia ser amada e não amaria mais.
O filme começa com Lee segurando uma arma, sob um viaduto, arrasada e pronta a se matar. Ela adia o suicídio porque acabara de ganhar cinco dólares em um programa e decide que vai gastar esse dinheiro antes de dar cabo à vida, porque senão o programa sairia de graça. Então, se Deus tinha alguma coisa para a vida dela, diz Lee, era agora ou nunca. Ela vai beber em um bar e encontra a lésbica Selby, personagem de Cristina Ricci. Tudo o que Lee precisava era de atenção e amor. Era só o que ela queria para que a vida deixasse de ser um inferno. Ela acha que encontrou o que procurava quando se depara com aquela menina, apaixonada por ela. Acha que agora está sendo amada. Mas não era exatamente assim o amor que ela precisava.
Monster conta a história de uma prostituta que foi condenada à morte no fim dos anos 80 e executada em 2002 por uma série de assassinatos. O inferno de Lee aprofundou-se na relação com Selby. Ela precisava trabalhar nas ruas para sustentar as duas. E, uma noite, um cliente a violentou terrivelmente. Ela o mata impiedosamente. Nessa seqüência, há uma cena emblemática. À distância, Lee observa o homem morto junto ao carro, enquanto acende e fuma um cigarro. A fumaça do cigarro, como se fosse a tenebrosa atmosfera infernal, de desespero, que cerca a sua vida, envolve o seu rosto, escondendo-o um pouco. Já no final do filme, depois de ter matado muitos outros clientes, Lee é deixada em uma estrada. Aquela fumaça inicial do cigarro que a envolvia, representando o desespero e a morte na sua vida, agora é uma pesada e densa nuvem, um nevoeiro terrível. A vida dela, agora, foi tão fundo que está perdida para sempre.
Chorei o filme inteiro. Porque a vida de Lee é apenas uma das que estão mergulhadas tão fundo no império das trevas, que por mais que saiba que tudo o que precisa é de amor, não é capaz nem de almejar experimentar o verdadeiro amor de Deus que está em Cristo Jesus. A única chance que alguém tem de deixar esse inferno na vida é o amor de Jesus. Mas a vida de Lee foi tão destruída por Satanás o tempo inteiro, que foi esmigalhada ao ponto de ela se tornar um monstro em muitas acepções da palavra. Ela não foi alcançada pelo amor do Senhor.
Ele nos libertou do poder da escuridão e nos trouxe em segurança para o Reino do seu Filho amado. Hoje de manhã, eu chorei novamente pensando no filme e pensando neste versículo. Imaginei aquela multidão de seres humanos, pecadores e perdidos, caminhando sem direção rumo à morte eterna, envoltos pelo inferno de suas vidas. Eu era um desses. E, simplesmente, pela Graça, o Senhor me libertou do império das trevas e me conduziu, à salvo, para o Reino do seu Filho amado. Tanto quanto Lee, minha vida estava envolvida em um inferno. Tanto quanto Lee, eu precisava de amor. Era tudo o que precisava. Mas por um motivo que eu jamais entenderei, Deus me tirou do meio da multidão e me deu o Seu amor. E me trouxe em segurança à Sua presença. Acabou com o meu inferno antes que ele me destruísse.
Sua vida pode estar envolvida por um inferno. Pode não ser um inferno tão profundo quanto o da vida de Lee. Pode não ser, aparentemente, tão mortal. Mas sua vida pode estar envolvida neste inferno que é caminhar sem o amor de Deus. Mas a boa notícia é que Jesus morreu na Cruz para que você pudesse ter tudo o que realmente precisa: amor, carinho, atenção. Jesus morreu para que tivéssemos vida, para que fossemos libertos do império das trevas, para que vivêssemos em Sua comunhão. Jesus nos dá o Seu amor e reconstrói qualquer vida, vítima de qualquer destruição infernal. Sim, você precisa experimentar um amor verdadeiro, como Lee precisava, para sair de seu inferno pessoal. E o único amor verdadeiro que pode lhe tirar daí é o que Deus revela por meio da vida e da morte de Jesus.

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