12.6.05

De verdade

Meus filhinhos, o nosso amor não deve ser somente de palavras e de conversa. Deve ser um amor verdadeiro que se mostra por meio de ações.
1 João 3. 18.

Há um pensamento atribuído aos puritanos dos séculos XVII e XVIII que eu gosto de citar: Grite mais alto porque o que você faz não me deixa ouvir o que você diz. Essa frase traduz um grande problema em nossa cultura ocidental: nós criamos uma separação entre nossos pensamentos e nossas ações. Somos platônicos ao ponto de não termos problema em pensarmos coisas inteiramente opostas às nossas ações.
Isso é extremamente preocupante, especialmente quando nos voltamos para pensar acerca dos elementos distintivos da vida cristã. O maior deles, o amor. Nós somos platônicos em nossa relação de amor. Mantemos nosso amor no âmbito do mundo das idéias e não sabemos, ou não queremos, manifestá-lo em ações práticas. É muito cômodo sermos capazes de apenas dizer que amamos, sem que nossas palavras nos conduzam a nada de muito real e concreto. Falamos, e nossas palavras se limitam a ser apenas palavras.
Na nossa relação com Jesus não podemos nos limitar a isso. Seremos reconhecidos como Seus discípulos pelo amor que nos une. Mas esse amor, do ponto de vista da revelação da Palavra de Deus, não se restringe a frases de efeito, a pensamentos sem maiores conseqüências de ação.
É acerca disso que fala o apóstolo: Meus filhinhos, o nosso amor não deve ser somente de palavras e de conversa. Deve ser um amor verdadeiro que se mostra por meio de ações. Impressiona-me perceber que todas as coisas mais fundamentais reveladas pela Palavra de Deus nos impulsionam à ação. Nada que Deus requer para uma viva relação com Ele fica no mundo das idéias. Todas as coisas, necessariamente, precisam se tornar ação prática. Não se ama de palavras ou conversa bonita. É preciso manifestar o amor na prática.
Para mim, então, é impossível não lembrar da parábola do bom samaritano. Não exatamente da parábola, mas do diálogo que a antecede. Um escriba quer testar Jesus e lhe pergunta como se salvar. Jesus devolve com uma pergunta sobre como o próprio escriba entende isso à luz das Escrituras. O homem responde, citando os dois mandamentos que resumem toda a Lei: Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças e com toda a mente. E ame o seu próximo como você ama a você mesmo (Lc. 10. 27). Jesus confirma que ele está certo e o desafia a viver agindo assim. Constrangido, o escriba pergunta quem é o próximo. E, então, Jesus conta a parábola.
A parábola mostra que o amor não é coisa de palavras, nem se manifesta como qualquer sentimento religioso. O sacerdote e o levita deixaram o homem espancado no lugar onde estava. O samaritano, alguém fora do círculo da religião tradicional, sem dizer uma palavra, o conduz até uma hospedaria, trata de seus ferimentos. Enfim, o ama. Porque amor é ação.
E o próprio João diz, mais à frente em sua carta, que o amor a Deus só é possível e se manifesta mais concretamente quando agimos em amor pelos nossos irmãos, pelo próximo: Se alguém diz: “Eu amo a Deus”, mas odeia o seu irmão, é mentiroso. Pois ninguém pode amar a Deus, a quem não vê, se não amar o seu irmão, a quem vê (1 Jo. 4. 20).
Se dizemos que amamos, a Deus e ao próximo, mas esse amor reside apenas nas nossas idéias, sem se traduzir em ações práticas em favor daqueles que afirmamos amar, somos mentirosos e não amamos de verdade ninguém. Nem Deus nem qualquer ser humano. E se não amamos, não somos discípulos de Cristo e até agora nos encontramos nas trevas, sob a maldição e a condenação de Deus.
Encontrar-se com a graça indescritível de Deus é ser impactado pelo mais puro e real amor. Amor que se manifestou, sem palavras, se entregando em nosso lugar na Cruz do Calvário. É ser tomado por ele. É se permitir ser conduzido e afogado nos rios desse amor. É ser empurrado por esse rio às ações mais práticas em favor do próximo.
Somos desafiados a viver na dimensão do verdadeiro amor. Amor que se traduz em ações e se manifesta sem palavras. Meus filhinhos, o nosso amor não deve ser somente de palavras e de conversa. Deve ser um amor verdadeiro que se mostra por meio de ações.

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