24.6.05

Últimas chances

Cuidado! O Senhor, o Deus Todo-Poderoso, vai tirar de Jerusalém e de Judá todo o sustento e todo o mantimento; não haverá nem comida nem água.
Isaías 3. 1.

Morro de medo de perder as últimas chances, de permitir que o tempo se esgote, de repentinamente perceber que é tarde para que qualquer mude ou se salve. Acho que esse é um dos elementos que me atraem em 24 horas: a idéia de que toda hora é uma hora limite. A noção de que as chances se esvaem e as possibilidades de transformação se acabam logo.
A relação de Deus com Seu povo sempre foi assim. E eu sempre me sinto no limite da Sua graça e da Sua longanimidade. Tantas vezes Deus estendeu as Suas mãos benevolentes para proteger e cuidar do Seu Povo. E outras tantas vezes o povo Lhe virou as costas, abandonando a Fonte das Águas Vivas, preferindo toda cisterna rota, como denuncia o profeta Jeremias (Jr. 2. 13).
Vez após vez, Deus renovou a Sua graça. Tenho medo de viver o tempo em que seja tarde demais para que a graça se renove. Tenho medo de viver o tempo em que a única coisa que reste seja o juízo. Juízo realizado sob a bandeira do Amor Eterno de Deus, mas, de todo jeito, juízo.
Já escrevi comparando os capítulos 18 e 19 de Jeremias. No 18, Deus o manda ir à casa do oleiro e, observando como o homem pode recomeçar a fazer o vaso toda vez que comete um erro, Deus afirma ao profeta que ainda há tempo de restauração para o povo: Será que eu não posso fazer com o povo de Israel o mesmo que o oleiro faz com o barro? Vocês estão nas minhas mãos assim como o barro está nas mãos do oleiro (Jr. 18. 6). Aqui, ainda havia tempo para recomeçar, para restaurar. No capítulo seguinte, a história muda de figura. Jeremias é enviado a comprar um pote já feito e, diante da liderança do templo, quebrar o vaso: Como se quebra um pote, e ele não pode mais ser consertado, assim eu quebrarei este povo e esta cidade (Jr. 19. 11). Desta vez, o tempo estava esgotado. Não havia mais redenção possível, arrependimento, recomeço. A cidade seria quebrada como o vaso que Jeremias quebrou.
Esta semana falei sobre Jesus chorando sobre Jerusalém. O fim da cidade está próximo. Jesus lhe anuncia o juízo, que não deixa de ser repleto de amor, ao ponto de que o Senhor chora: Ah! Jerusalém! Se hoje mesmo você soubesse o que é preciso para conseguir a paz! Mas agora você não pode ver isso. Pois chegarão os dias em que os inimigos vão cercá-la com rampas de ataque, e vão rodeá-la, e apertá-la de todos os lados. Eles destruirão completamente você e todos os seus moradores. Não ficará uma pedra em cima da outra, porque você não reconheceu o tempo em que Deus veio para salvá-la (Lc. 19. 42 – 44).
Tenho medo de viver em um tempo em que a única coisa que nos resta é o juízo. Tenho medo de viver uma vida que, resoluta, só possa ser tratada por Deus de uma maneira dura e implacável, mesmo que cheia de amor. Tenho medo de estar perdendo, ou de ver se perderem, as últimas chances de arrependimento e arrependimento.
Tenho medo de que palavras como essas se dirijam a mim ou a você: Cuidado! O Senhor, o Deus Todo-Poderoso, vai tirar de Jerusalém e de Judá todo o sustento e todo o mantimento; não haverá nem comida nem água. Ele vai tirar também todas as pessoas importantes: os homens corajosos e os soldados, os juízes e os profetas, os adivinhos e os sábios, os oficiais do exército e as autoridades civis, os conselheiros e todos os feiticeiros. O Senhor escolherá meninos para governar o seu povo; o poder ficará nas mãos de crianças. Todos perseguirão uns aos outros, cada um explorará o seu vizinho. Os jovens não respeitarão os velhos, e gente que não vale nada desprezará pessoas honestas (Is. 3. 1 – 5). Tenho medo, porque segundo esse texto, crise na liderança, crise nos relacionamentos, e perda do sustento são sinais do juízo de Deus em curso contra o Seu povo. E, às vezes, tem sido somente isso que a gente vê, olhando de um a outro lado. Às vezes, por mais que busquemos o nosso sustento espiritual, o Pão do Céu ou Água da Vida, nos sentimos como esfomeados e sedentos no deserto. Às vezes, tenho medo de que isso signifique que nosso tempo passou. Tenho medo de estar sob o juízo amoroso de Deus.
Segundo o profeta, ainda, a causa da tragédia é bem conhecida e definida: Jerusalém está arrasada, a terra de Judá está em ruínas. Pois com as suas palavras e as suas ações o povo desafia o Senhor e ofende a Sua gloriosa presença (Is. 3. 8). Tenho medo de que estejamos ofendendo a santidade do Senhor, sendo injustos em nossa ações, desiguais em nossos tratamentos, e desavergonhados em nossos pecados (Is. 3. 9). Tenho medo de ser um desses, porque diz o Senhor: Ai deles, pois estão trazendo sobre si mesmos o castigo da sua própria maldade! (Is. 3. 9).
Textos assim me desafiam a repensar a minha prática, pensar a nossa vivência diante de Deus, e me conduzem a clamar por misericórdia diante do Senhor. Espero que ainda possamos nos prostrar ante Ele. Espero que ainda encontremos espaço para arrependimento e restauração. Espero que não tenhamos perdido as nossas últimas chances. Examine o seu coração e se arrependa enquanto for tempo de encontrar o Deus gracioso.

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