28.5.06

Abandonado

Quando as altas autoridades da Babilônia enviaram mensageiros a Ezequias para fazerem perguntas sobre o milagre que havia acontecido em Judá, Deus não o ajudou, pois queria pô-lo à prova a fim de descobrir o que estava no fundo do seu coração.
2 Crônicas 32. 31

Muitas histórias na Bíblia – e em nossa vida pessoal – ilustram o sofrimento e a angústia provocados pela sensação de se sentir só e abandonado. Às vezes, em meio a tantos problemas e momentos difíceis, tudo o que precisamos é de alguém ao nosso lado. No mais das vezes, voltamo-nos em angustiosa oração ao Pai e aguardamos, ansiosos, pelo Seu toque, pela Sua cura, Sua resposta. Porém, não são poucos os momentos em que Ele se cala.
É difícil para nós entendermos porque Deus silencia ou porque fica ausente. Na angústia, clamamos. Na dificuldade, oramos. Precisamos do Seu toque e cuidado. Não entendendo, sentimos Deus ausente. Como se tivesse nos abandonado com nossa dor. Como se nossas orações não passassem do teto.
Procuramos mil e um motivos, na ansiedade por descobrir uma razão disto. Na nossa mentalidade religiosa, buscamos em nós a resposta: seria nossa culpa, por um pecado inconfesso? Estaríamos respondendo pela conseqüência de alguma omissão nossa? Responder essas questões afirmativa é a primeira e mais fácil resposta que podemos encontrar.
Quando as altas autoridades da Babilônia enviaram mensageiros a Ezequias para fazerem perguntas sobre o milagre que havia acontecido em Judá, Deus não o ajudou, pois queria pô-lo à prova a fim de descobrir o que estava no fundo do seu coração. Sempre me chamou a atenção esse texto. Deus não abandonou Ezequias por qualquer pecado ou como conseqüência de qualquer ato. O motivo de Deus é claro no texto: testar o coração do Rei. Quer dizer, descobrir quais as motivações, descobrir o que ia no coração de Ezequias.
Deus faz isso conosco. Afasta-se de nós para provar que tipo de relação temos construído com Ele. Por que andamos com Ele? Se for amor nossa motivação, ainda que tenhamos a sensação de estarmos sozinhos, longe dEle, não conseguiremos nos desligar. Se, no entanto, tivermos construído uma relação superficial com o Pai, esse teste será definitivo para provar a fragilidade de quem somos e de nossa fé.
Esse é parte do sentido da prova de Jó. Deus testa sua motivação em seguí-lo. Em sua perseverança – às vezes, teimosa – Jó prova a honestidade de suas motivações em buscar ao Senhor. Ainda que essa seja uma busca um tanto sem conhecimento, ao fim, como resultado de tudo, Jó experimenta um aprofundamento magnífico na sua relação com o Pai: Eu sei que para Ti nada é impossível e que nenhum dos Teus planos pode ser impedido. Tu me perguntaste como me atrevi a pôr em dúvida a Tua sabedoria, visto que sou tão ignorante. É que falei de coisas que eu não compreendia, coisas que eram maravilhosas demais para mim e que eu não podia entender (Jo. 42. 2 – 3).
É isso. Não é raro nos sentirmos sós, inclusive abandonados por Deus. Nosso amor é, desse modo, provado. E, caso resistamos, será ele fortalecido e nossa relação com o Pai aprofundada.