18.6.15

Em Deus mas sem Deus

Antes da modernidade, uma fé em um Deus Todo-Poderoso, determinista, absoluto, fazia todo sentido. Aí veio a modernidade que trouxe consigo um aprofundamento do secularismo.
Se antes, se cria no theós do teísmo, o iluminismo nos trouxe um deísmo ateísta, que negava a possibilidade de um deus todo-garantidor e pôs em seu lugar um que deu corda no mundo, estabeleceu as regras do jogo e deu o pira.
O ateísmo, claro, conforme o conhecemos hoje era a tendência natural de tal postura. Ele, associado a um profundo secularismo.
Por isso teólogos como Dietrich Bonhoeffer e Roger Lenaers, em tempos diferentes, entenderam que um homem que usa um interruptor para acender a luz de casa - ou a Internet para se comunicar à distância, indo até o mais longíquo rincão - não pode acreditar no deus que pregam os teístas.
Não faz mais sentido.
Uma fé relevante, como dizem os dois que citei acima, é aquela que aprende a viver em Deus sem Deus - em um mundo que não tem em Deus na cadeia causal do mundo. Porque o mundo já não cabe numa cadeia causal em que caiba Deus.
Vou dar um exemplo. Hoje pela manhã enquanto lia a Bíblia percebi com clareza como fazia sentido pensar em um deus todo-interveniente quando parecia que tudo fora criado para nós, humanos. O mundo era absolutamente finito, o céu era uma limitada toalha jogada sobre nossas cabeças, que andávamos em um plano mundo da terra - e com um fim logo ali. Era claro que esse mundo só podia existir em nossa função, a única espécie inteligente e com autoconsciência a coexistir nesse mundinho.
Mas hoje nosso mundo é muito maior. Entendemos o tamanho da nossa insignificância e podemos ter certeza de que o céu acima de nossas cabeças não foi estendido para nós. Como diria Cortella, somos um indivíduo entre mais de 7 bilhões, de um pequeno planetinha, rodando em torno de uma pequena estrela na periferia de uma galáxia com outras bilhões de estrelas - uma galáxia, por sua vez, que é uma entre bilhões. Quando era um tapete, havia sentido pensar que ele fora estendido para nós. Mas esse universo virtualmente infinito não pode ser pensado a partir de nosso ponto microscópico dentro de si.
Uma fé relevante não pode esquecer isso - e logo precisa ressignificar toda uma visão mítica e teológica dos séculos anteriores, não só na leitura do texto bíblico como também nas suas respostas teológico-religiosas.
Mas a fé hegemônica no cristianismo, ao menos no brasileiro, é ainda teísta pré-moderna. Eu ia dizer, por fim, que é essa fé teísta pré-moderna que nos arrasta para o fundo do poço do conservadorismo no Brasil. Não é à toa que o crescimento de Malafaias e afins se confunde com posturas cada dia mais medievais entre nós.

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