26.12.16

A procura

Jesus disse: “Mulher, por que você está chorando? A quem procura?”.

João 20. 15



A vida é uma constante busca. Buscamos satisfazer nossos desejos e interesses desde recém-nascidos, ainda que não sejamos capazes de compreender, nesse momento, o mundo que nos rodeia.

Muito cedo, passamos a buscar a compreensão do que nos ocorre na vida - o que nem sempre é fácil de alcançar.

Cedo também tentamos encontrar o sentido das dores, frustrações e, finalmente, da morte. Lembro, por exemplo, que tinha sete anos quando encarei a morte pela primeira vez - a morte de minha prima, Elisabete, que partiu aos 17 anos. Lembro, também, de termos levado Alice ao velório de uma vizinha nossa com cinco anos, explicando a ela o significado daquilo. Desse modo, Alice encarou com muita tristeza mas naturalidade a morte de minha avó um ano depois.

Procuramos satisfações. Procuramos fugir da dor. Procuramos companhia, amizade, carinho. Procuramos respostas. Procuramos paz, tranquilidade. Procuramos vida.

Nem sempre vamos encontrar e, ao não encontrar, vamos precisar lidar com as frustrações e com a dor. Viktor Frankl diz que nós só conseguimos sobreviver ao sofrimento se formos capazes de dar sentido a ele: o sofrimento tem que significar algo para que possamos passar por ele. "Quem tem porque viver pode suportar quase qualquer como”, já disse Nietzsche.

A vida, então, é uma busca, principalmente, por sentido e significado.

Jesus foi julgado, morto e sepultado na Páscoa. Segundo João deixa claro, por razões eminentemente políticas - Jesus foi julgado e morto como um subversivo revolucionário, um inimigo de César.

Os discípulos ficaram arrasados - em sofrimento e buscando o sentido de tudo aquilo que lhes permanecia oculto. No domingo pela manhã, um grupo de mulheres vai à sepultura para cuidar de um cadáver de dois dias que foi enterrado às pressas por causa do sábado, com apenas o mínimo de ritual.

O corpo era um sentido para o qual a vida podia seguir - ao menos naquela manhã. Elas tinham de fazer algo com o seu sofrimento.

O corpo, no entanto, não estava lá.

Penso que toda dor e todo sofrimento tenham se tornado mais amplos e significativos para aquelas mulheres enfrentando um luto de dimensão inimaginável.

Depois que o evangelista e Pedro passaram pelo sepulcro, Maria ficou no jardim sozinha para chorar suas dores. Imersa em sua imensa dor e sofrimento, ela se depara com Jesus, mas não o reconhece.

As perguntas do Mestre são decisivas:

“Mulher, por que você está chorando? A quem procura?”

A quem nós procuramos? Por que choramos?

O que nos faz sofrer? Onde temos encontrado os sentidos e significados de nossa vida?

Jesus estava ali no jardim. Ele era a resposta que Maria tinha a dar ao seu sofrimento e à sua busca. Mas ela o procurava morto e, morto, nunca o encontraria. Sua busca por um morto não aliviaria jamais seu sofrimento e sua procura constante.

Para encontrar o que procurava, Maria precisava entender que Ele estava vivo.

A experiência fundante da fé não é o Natal, não é a Cruz nem o túmulo vazio. A experiência fundante da fé é encontrar o Jesus Ressurrecto, é saber que Ele está vivo.

A melhor resposta ao nosso sofrimento e o melhor significado da nossa busca estão no Deus que se encarnou, se tornou um de nós e, mesmo tendo sido julgado, torturado e executado, está vivo. A melhor resposta à nossa procura é Jesus vivo.

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